Hoje é Dia do Orgulho LGBTQIAPN+

 


Quero aproveitar esta data para compartilhar algo que vivi e que acredito que ilustra bem os desafios que ainda enfrentamos, mesmo em 2025.


Recentemente, participei de um processo seletivo para uma empresa familiar. Não fui aprovado — e tudo bem, faz parte do jogo profissional. O curioso foi que, durante toda a seleção, praticamente 8 em cada 10 frases eram: "Aqui é uma empresa familiar."


Por natureza, sou uma pessoa questionadora. Ao final, perguntei se houve algum ponto específico que pesou na decisão. Fui informado de que havia “um detalhe”. O detalhe, no entanto, nunca foi esclarecido.


Hoje, sinceramente, não faço mais questão de saber. Tenho em mente algumas possibilidades — entre elas, a de que minha sexualidade possa ter sido um fator. No formulário de inscrição havia um campo sobre orientação sexual. Preferi marcar "Prefiro não responder." Entendo que minha intimidade não deveria ser pauta de avaliação profissional.


No meu portfólio, constava um artigo do meu blog: meu trabalho de conclusão de pós-graduação, com o tema “Homossexualidade e Mercado de Trabalho: Uma Reflexão sobre Ocupação de Cargos.” Também mencionei que já atuei em projetos de diversidade, equidade e inclusão. Para mim, isso sempre foi sinal de compromisso social e alinhamento com temas que fazem parte do mundo do trabalho contemporâneo. Mas sei que, em alguns ambientes, pode ainda ser visto como uma “questão”.


Essa situação me fez lembrar de algo que vivi anos atrás. Em 2012, pedi exoneração de um cargo público para atuar numa empresa privada. O cenário era outro, ainda menos receptivo. Certa vez, fui pauta de uma reunião interna. O Diretor conversou com o CEO sobre a possibilidade de minha efetivação, após algumas pessoas tomarem conhecimento da minha afetividade. Isso ficou claro e registrado na memória — e no aprendizado.


Também me recordo de um dado que li em 2020. Uma pesquisa realizada em diversos estados brasileiros, com pessoas e representantes de recursos humanos, apontou que 38% das indústrias e empresas tinham restrições para contratar profissionais LGBTQI+.


Muita coisa mudou de lá para cá. Hoje, há avanços sociais importantes e empresas que realmente abraçam o compromisso com diversidade e inclusão. Mas a jornada é longa.


Neste mês, as redes se enchem de postagens coloridas, hashtags, slogans sobre respeito e pertencimento. Mas é bom lembrar que respeito não é um movimento de calendário, nem uma ação de marketing. É prática cotidiana. É criar ambientes em que as pessoas possam simplesmente trabalhar, se desenvolver, contribuir — sem que sua identidade seja vista como “um detalhe” incômodo.


Se você é LGBTQIAPN+ e já passou por situações parecidas, deixo aqui meu abraço solidário. Se você atua em posições de liderança, RH ou gestão, talvez seja um bom momento para refletir: na sua empresa, essas portas estão mesmo abertas? Ou permanecem só entreabertas, para sair bem na foto?

O mundo é tão diverso. Existe tanta pluralidade.


E não é só pela data de hoje. Todos os dias tenho orgulho de quem sou, da minha história e da jornada que continuo percorrendo.


A sensação que carrego (sei que não sou o único), é que, ao integrar uma das “letrinhas”, a gente acaba precisando provar sempre alguma coisa. É como se fosse necessário demonstrar o tempo todo que você é um bom filho, um bom aluno, um excelente profissional. Não por vaidade ou por querer competir, mas simplesmente para confirmar que temos competência, habilidades e valor. Que somos tão capazes quanto qualquer outra pessoa.


Por isso, hoje e todos os dias, sigo acreditando que cada passo, cada conversa e cada oportunidade de mostrar quem somos ajudam a construir e abrir espaços: diversos, mais justos e mais humanos.

Espaços em que ninguém precise se esconder ou se provar o tempo todo, mas apenas viver com dignidade, respeito e pertencimento.


Que nossas trajetórias sejam reconhecidas pelo que realmente importa: nossa dedicação, nossos valores e nossa capacidade de fazer a diferença onde estivermos.

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